"Quando der à luz aquela que há-de ser mãe."
(Miq 5, 1-4a)
No dia 8 de Setembro de cada ano, 9 meses após a Solenidade da Imaculada Conceição, a Igreja comemora o nascimento da Virgem Santa Maria.
Esta Celebração foi introduzida, no Ocidente, no Séc. VII e liga-se estreitamente à vinda do Messias, como promessa, preparação e fruto da salvação. Celebremos com alegria o nascimento da Virgem. Este dia é o resplandecer da aurora, que antecede o aparecimento do sol radioso. Pela Santíssima Virgem nos veio o Sol de justiça, Cristo, nosso Deus.
O nascimento de Maria é o prelúdio do Natal do Senhor, porque com o aparecimento de Nossa Senhora neste mundo começa a realização do plano de Deus, isto é, a Encarnação do Verbo e a Redenção da humanidade. Na Virgem de Nazaré, o Altíssimo prepara-Lhe a Mãe. A Mãe preanuncia o Filho, diz que Ele está para vir: estão para se tornar história as antigas promessas de salvação da humanidade. Aqui está toda a grandeza de Maria; é a criatura por Deus escolhida para mãe de seu Unigénito.
Preconizou-a Miquéias como "aquela que há de dar à luz" (5,2), designando o tempo de seu parto como o início de nova era quando de "Belém de Efratá... virá quem está destinado a reinar em Israel" (ibidem, l). Em Belém, ao nascer Jesus da Virgem Maria, inicia-se a era da salvação messiânica. Portanto, a Natividade de Maria é a aurora da Redenção.
O nascimento de Nossa Senhora projectará nova luz sobre toda a humanidade; luz de inocência, de pureza, de graça, aurora do grande Sol que iluminará, que inundará a terra quando parecer Jesus, "Luz do mundo".
Nossa Senhora foi preservada do pecado e cheia de graça em vista dos méritos de Cristo. Assim não só anuncia a Redenção próxima, como também traz em Si as primícias dela, como primeira remida de seu divino Filho. Primeira flor desabrochada antecipadamente do mistério pascal de Jesus foi a Imaculada Conceição de Maria, flor que alegrará o mundo e atrairá as complacências do Altíssimo.
Depois do Natal de Jesus, nenhum outro nascimento foi tão importante aos olhos de Deus e tão precioso para o bem da humanidade quanto o de Maria. Entretanto, tal evento permanece na sombra. Ninguém o registou, nada falam dele as Sagradas Escrituras. No silêncio desaparecem as origens de Nossa Senhora, assim como no silêncio desapareceu toda a sua vida. A Natividade de Maria é grandioso acontecimento envolto em profunda humildade. Quanto mais quisermos crescer aos olhos de Deus, tanto mais humildes, pequenos havemos de ser, e tanto mais nos ocultar aos nossos olhos e aos dos outros!
A primeira vez em que aparece Maria no Evangelho de São Mateus é no fim da genealogia de Jesus: "Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo" (1,16). Em São Lucas, aparece pela primeira vez no relato da Anunciação do Senhor. Em São Marcos e São João, só mais tarde, durante o ministério público de Seu Filho. Em todo caso, Maria só entra no Evangelho em vista de Jesus, como Mãe do Salvador. Embora se note a presença de Maria em muitas páginas dos Evangelhos, mormente de São Lucas, é tão discreta e velada a ponto de desaparecer na do Filho.
Perde-se e desaparece a vida de Maria na de Jesus. Ela viveu verdadeiramente oculta com Cristo em Deus. Viveu na sombra não só durante a infância, mas também depois, quando Mãe de Deus, até nos momentos de triunfo do Filho e até quando certa mulher, entusiasmada com a pregação de Jesus, ergueu a voz em meio à multidão gritando: "Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram!" (Lc 11,27).
A festa mariana celebrada neste dia pela Liturgia é, pois, um convite à vida oculta com Maria em Cristo, e com Cristo em Deus. Feliz de quem Deus conduz através das circunstâncias, pelo caminho da humildade, da simplicidade, longe de tudo que brilha aos olhos humanos! Só tem de aderir ao plano divino, para entrar nas fileiras dos pobres de espírito a quem o reino dos céus foi prometido. Mas também os que se empenham, por dever, em grandes responsabilidades e estão colocados em evidência, por ofício, na sociedade ou na Igreja, são chamados a imitar a atitude de Maria.
Cumpre aprendermos dela a agir de modo a poder servir aos irmãos sem alarde, sem nos fazer valer, sem nos arrogar direitos a privilégios, antes buscando eclipsar-nos, sobretudo quando já não é necessária nossa actividade. Quem aspira imitar Nossa Senhora há de ter ânsia de ocultar-se à sombra de Deus, convicto de que, se lhe foi concedido fazer alguma obra, foi dom divino e deve em proveito do bem comum e da glória do Altíssimo.
(Frei Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD. Intimidade Divina)
"Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria? Vede o para que nasceu. Nasceu para que d'Ela nascesse Deus. Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus"
(Padre António Vieira, Sermão do Nascimento da Mãe de Deus).
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"Celebremos com alegria a Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria.
De vós, ó Maria, surgiu o Sol de justiça, Cristo, nosso Deus."
(Antífona de Entrada da Missa da Natividade da Virgem Santa Maria).
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