segunda-feira, 18 de abril de 2011

A MORTE DE CRISTO É A NOSSA VIDA


1. Escreve S. João que o nosso Redentor, antes de expirar, inclinou a cabeça: “E tendo inclinado a cabeça, entregou o Seu espírito” (Jo. 19,30). Inclinou a cabeça para significar que aceitava a morte, com plena submissão, das mãos de Seu Pai, a quem prestava humilde obediência. “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl. 2,8).

Jesus, estando na cruz com os pés e as mãos nela cravados, não tinha liberdade de mover outra parte do corpo além da cabeça. Diz S. Atanásio que a morte não ousava tirar a vida ao Autor da Vida e por isso foi preciso que Ele mesmo, inclinando a cabeça (única parte que podia mover), chamasse a morte para que viesse tirar-lhe a vida (Qu. 6 Antioc.). Referindo-se a isso, diz S. Ambrósio que S. Mateus, falando da morte de Jesus, escreve: “Jesus, porém, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito” (Mt. 27,50), para significar que Jesus não morreu por necessidade ou por violência dos carrascos, mas porque o quis espontaneamente, para salvar o homem da morte eterna a que estava condenado.

2. Isso já tinha sido predito pelo profeta Oseias: “Eu os livrarei das mãos da morte, eu os resgatarei da morte. Ó morte, eu serei a tua morte; ó inferno, eu serei a tua mordedura” (Os. 13,14). Os santos padres S. Jerónimo, S. Agostinho, S. Gregório e o próprio S. Paulo, como veremos brevemente, aplicam este texto literalmente a Jesus Cristo, que com a Sua morte nos livrou das mãos da morte, isto é, o Inferno, onde se sofre uma morte eterna. No texto hebraico, como notam os intérpretes, em vez da palavra morte, está a palavra “sceol”, que significa inferno.

Como se explica que Jesus Cristo foi a morte da morte? “Serei tua morte, ó morte!” Porque o nosso Salvador, com a Sua morte, veio destruir a morte a nós devida pelo pecado. Por isso escreve o Apóstolo: “Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado” (1Cor. 15,54). O Cordeiro Divino Jesus, com a Sua morte, destruiu o pecado, que era a causa da nossa morte, e esta foi a vitória de Jesus, pois Ele, morrendo, tirou do mundo o pecado e, consequentemente, livrou-nos da morte eterna a que estava sujeito até então todo o género humano.

A isso corresponde aquele outro texto do Apóstolo: “Para que pela morte destruísse aquele que tinha o império da morte, isto é, o Demónio” (Hb. 2,14). Jesus destruiu o Demónio, isto é, destruiu o poder do Demónio, o qual em razão do pecado tinha o império da morte, a saber, tinha o poder de dar a morte temporal e eterna a todos os filhos de Adão, contaminados pelo pecado.

E esta foi a vitória da Cruz, na qual morrendo Jesus, que é o Autor da Vida, com a Sua morte recuperou-nos a vida. Por isso canta a Igreja: “A vida suportou a morte e pela morte produziu a vida”. Isso tudo foi obra do amor divino, que como sacerdote sacrificou ao Eterno Pai a vida do Seu Filho Unigénito pela salvação dos homens. E assim canta igualmente a Igreja: “O amor, qual sacerdote, imola os membros do corpo sacrossanto”.

S. Francisco de Sales exclamou: “Consideremos este divino Salvador estendido sobre a cruz, como sobre seu altar de amor, onde vai morrer por nosso amor". Ah, por que não nos lançamos também em espírito sobre a cruz, para morrer com Ele, que quis morrer por nosso amor?”

Sim, meu doce Redentor, eu abraço a Vossa cruz e a ela abraçado quero viver e morrer, beijando sempre com amor os Vossos pés chagados e trespassados por mim.

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