sábado, 6 de novembro de 2010

São Nuno de Santa Maria, rogai por nós e guiai-nos à vitória!

SÃO NUNO DE SANTA MARIA (1360 – 1431)
"A tradição secular afirma que em Fátima, quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído à Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol. Foi por esta razão intitulado, por vários historiadores carmelitas de “Precursor de Fátima”. E quem poderá saber o papel providencial que D. Nuno teve na libertação dos pequenos videntes de Fátima que foram detidos a 13 de Agosto e libertos a 15 de Agosto de 1917 na mesma terra do seu antigo Condado de Ourém?"
O Santo Carmelita de nacionalidade Portuguesa, canonizado em 2009, por Bento XVI e cuja Memória hoje celebramos, nasceu recebendo o nome de Nuno Álvares Pereira em 24 de Junho de 1360, filho natural de D. Álvaro Gonçalves Pereira (Prior da Ordem de S. João do Hospital), e de Iria Gonçalves do Carvalhal, sendo legitimado pelo Rei D. Pedro, quando tinha apenas a idade de um ano. Já adolescente, na idade de treze anos, entrou na corte de D. Fernando, sucessor de D. Pedro e armado cavaleiro e escolhido para escudeiro da Rainha, D. Leonor Teles. Nuno gostava de ler as novelas da cavalaria, e tomou para seu modelo o cavaleiro Galaaz, predisposto a uma vida de castidade. No entanto, acabou por ceder á vontade dos pais, contraindo matrimónio com uma senhora, D. Leonor de Alvim, já viúva, do casamento resultando três filhos, sobrevivendo apenas Dona Beatriz, ou Dona Brites.
Dona Leonor veio a falecer em Janeiro de 1388, dando a Nuno Álvares Pereira as condições, por ele fortemente desejadas, para uma vida de perfeita castidade. Entretanto, adestrado nas artes de guerra, salientou-se, pela coragem e argúcia em diversos episódios bélicos, anteriores à crise dinástica de 1383-1385, crise essa determinada pelos problemas da sucessão régia, derivados da morte do rei D. Fernando. Diversos eram os pretendentes mas nenhum agradava ao povo, porque, de uma forma ou de outra, Portugal teria um castelhano por Rei, e, por isso, a preferência era dada a um filho bastardo de D. Pedro I, D. João, Mestre da Ordem de Aviz, que encontrou em Nuno o seu principal colaborador, e estratega, contra a sujeição do Reino a Castela em defesa da íntegra independência portuguesa. No triénio de 1383 a 1385 os seus sucessos de guerreiro foram ímpares, sendo nomeado Condestável do Reino. Em face das suas virtudes heróicas e religiosas, desde muito cedo recebeu do povo o título de Santo Condestável.
Sendo um guerreiro, não foi por vocação bélica, mas por defesa de valores que ele considerava primaciais: por um lado, o amor á Pátria e a lealdade ao monarca escolhido pelo povo, D. João I, por outro lado, o espírito da cruzada, face à posição de Castela, que optara pela obediência ao papa de Avinhão (durante o Grande Cisma do Ocidente), enquanto Portugal se manteve leal a Roma, de onde ter direito ao título de Nação Fidelíssima. Por conseguinte, a gesta heróica do Condestável teve em vista, de forma especial, a unidade da Igreja na obediência romana.
As virtudes militares não o levaram a esquecer as virtudes cardeais, sobretudo a caridade. São muitos os testemunhos coevos sobre a caridade que praticava com os adversários, não os considerando inimigos, mas apenas opositores. No final de várias batalhas, ele mesmo ordenava os seus militares que tratassem dos mortos e sobretudo dos adversários feridos em combate, aos quais protegia da espontânea revolta popular. Isto é: fez a guerra em nome da paz.
Ainda guerreiro, era conhecido por ser um homem de fé e de oração, raro iniciando uma peleja sem antes se recolher em oração, sem pressa de combate.
Em reconhecimento dos serviços prestados ao País e ao Reino, foi largamente premiado pelo Rei D. João I com a oferta de muitos bens, sobretudo terras e povoações, com direito a foros e outras benesses, tornando-se o homem mais rico de Portugal a seguir ao Rei.
À medida que os deveres bélicos o deixavam mais livre, e já coberto de glórias, iniciou uma nova fase de vida, em 1393, partilhando com os seus companheiros de armas algumas das numerosas terras que lhe tinham sido doadas. Preconizando para si mesmo uma vida de oração e de contemplação, iniciou, em 1389, numa das colinas de Lisboa, a construção de um convento, com Igreja de estilo gótico que chegou a ser tida como a mais bela da cidade.
Deu ao Convento o nome de Nossa Senhora do Vencimento, em acção de graças pelas suas vitórias e, poucos anos depois (decerto 1397), escolheu para habitantes do novo Convento os frades Carmelitas que, nessa época, só dispunham de uma comunidade, em Moura, no Sul de Portugal.
Para Governo e sustento da nova comunidade de Lisboa, que veio a ser a mais importante, fez a doação de um valioso património, reservando-se o direito de ser ele a administrar esse património, enquanto vivo fosse. Em 1423, celebrando-se o I Capítulo Provincial dos Carmelitas portugueses, D. Nuno fez a doação definitiva da igreja e convento de Lisboa à Ordem do Carmo, nela professando como donato, recusando mesmo o título de Frei, gostando de ser chamado Nuno, simplesmente Nuno.
Desprendido dos bens materiais, desejou realizar três intenções: mendigar o sustento pelas ruas da cidade, não consentir outro título que não fosse Nuno, e sair de Portugal para viver onde fosse desconhecido. Não foi preciso sair, porquanto D. João e D. Duarte lhe estabeleceram uma pensão para seu sustento, pensão essa que, ao fim e ao cabo, Nuno de Santa Maria distribuía pelos pobres e necessitados que á porta do convento se aglomeravam, ganhando, entre o povo, o título de Pai dos Pobres.
Afastado do estrépito das batalhas, procurando no essencial a justiça e, no resto, o amor, a sua figura faz-nos lembrar Elias e a sua espada de fogo, em defesa do Deus único e verdadeiro. A piedade, a resolução, a confiança, a fé viva, o zelo, a oração poderosa e a contemplação, já se acham na pessoa do cavaleiro, destinado a tornar-se um Galaaz, não da guerra, mas do Carmelo, procurando combater o bom combate (2 Tm., 4,7). O herói revela-se a caminho da santidade, confirmando a regra de que o verdadeiro herói é o Santo. Já antes de professar na Ordem do Carmo, que preferiu em vista do seu altíssimo culto por Maria, Mãe de Jesus, Nuno dera provas de pureza e de castidade, de silêncio e de oração, praticando as virtudes teologais e cardeais, em prova da renúncia à sedução do mundo. Todavia, os carismas que se tornam mais palpáveis são os do despojamento e da pobreza. Desprende-se de toda a propriedade material, torna-se pobre e vive como pobre para os pobres. Assim o viu o autor da Crónica do Condestável: “apartou-se a servir a Deus em estado de pobre”. Uma opção de radical significado, algo fundamentada na dialéctica pobreza/riqueza, em que assumiu serem, os pobres, o tesouro dos ricos.
Frequentando os sacramentos, o seu cordial amor pela Virgem do Monte Carmelo levou-o a promover o culto mariano, mediante a devoção pelo significado do Escapulário. Com efeito, começou por convidar pessoas do seu conhecimento, tanto nobres como pobres, a reunirem-se para a prática devocional do Escapulário, dando origem à primeira Confraria de Leigos em Lisboa, chamada “Confraria do Bentinho”, origem da futura Ordem Terceira Secular. Foi, portanto, um pró cere militante, ou mesmo fundador, do movimento do laicado carmelita.
Três ideais distintos definem o perfil de São Nuno: a imitação de Galaaz, em defesa das causas nobres, da justiça e da paz; o amor à terra dos seus, a Pátria; e, por fim, a absoluta imersão na vida religiosa, sempre motivada por uma razão transcendente, resumida no ideal do serviço de Deus.Beatificado em 1918, pelo Papa Bento XV, é agora canonizado pelo Santo Padre Bento XVI, deste modo se confirmando tanto a antiguidade do culto como o provado exercício das virtudes heróicas.
Modelo para a Juventude, servo dos pobres, o seu exemplo desafia os tempos modernos para ser imitado, ao menos na essencial prática, a caridade activa, expressa na Obra intitulada “Caldeirão do Beato Nuno”, destinada a auxiliar os mais necessitados. A canonização servirá, não só para dispor a sua imagem nos altares, mas também, e sobretudo, para um novo desafio, porventura a expressar na associação de toda a Família Carmelita, (abrangendo as Ordens, os sodalícios das Ordens Terceiras e as Confrarias Populares), associação essa destinada a bem fazer a favor dos pobres, incluindo os muitos dos povos lusófonos em busca de saúde e do modo de vida. Ou seja: renovar a opção pelos pobres e sedentos de pão, de caridade e de justiça.
(Jesué Pinharanda Gomes)
Admirável foi este santo varão pelas muitas e especiais virtudes que cultivou, não só depois do divórcio que fez com o mundo, mas também antes de receber o hábito religioso.

Na castidade foi sempre tão firme que jamais em prejuízo desta virtude se lhe conheceu o mais leve defeito.


Forçado da obediência se sujeitou ao casamento, que sem desagrado de seu pai, o não chegaria a evitar. Mas aos vinte e seis anos ficou absoluto do matrimónio, porque a inumana parca pôs termo à vida da sua esposa na flor de seus anos. Entrou El Rei no empenho de lhe dar outra esposa não menos digna de seu nascimento. Resistiu o invicto Condestável, encobrindo sempre o fundamento principal, que era o de viver casto.

Na oração foi tão incessante que admirava aos mesmos que faziam por ser nela seus imitadores. Faltava com o descanso ao corpo para se aproveitar da maior parte da noite orando mental e vocalmente.
Depois de ser religioso, estreitou mais o trato e familiaridade com o Senhor, porque então vivia no retiro conveniente para poder sem estorvo empregar todas as potências da alma no Divino Objecto que contemplava.

Na presença da soberana imagem da Virgem Maria Senhora Nossa, com o título da Assunção, derramava copiosas lágrimas; e com elas, melhor do que com as vozes, Lhe expunha as suas súplicas nas ocasiões que para si ou para os seus patrocinados Lhe pedia favores.
Exemplaríssima foi a humildade com que, fora e dentro da Religião, serviu a Deus em toda a vida. Como árvore frutífera cujos ramos mais se inclinam quando é maior o peso dos seus frutos, assim este virtuoso varão mais submisso se mostrava com os triunfos e com as virtudes. Nunca no seu espírito teve lugar a soberba: antes, quanto lhe foi possível, trabalhou por desterrá la dos ânimos dos que lhe seguiam as ordens e o exemplo.
Aos sacerdotes fazia tão profunda veneração que passava a ser obediência. A um criado seu de muita distinção, que havia tomado o hábito da nossa Ordem, assim que o viu professo e feito sacerdote, começou a respeitá lo em tal forma que a todos causava admiração.
Com o hábito religioso adquiriu o irmão Nuno muitos hábitos de mortificação. O sangue que lhe corria do corpo, quando com ásperos flagelos o lastimava, também lhe diminuia os alentos: mas ainda desta fraqueza tirava forças para, com pasmosa admiração dos Companheiros, continuar em semelhantes exercícios até ao último prejuízo da vida, que em desempenho do ardentíssimo desejo que teve de a sacrificar a Deus, sempre reconheceu como trabalho, e estimou a morte como lucro.
Depois de religioso, foi o servo de Deus mais admirável nos exercícios da caridade. Não se contentava com distribuir as esmolas pelo seu pagador, como no século fazia; mas pelas próprias mãos, na portaria deste convento, remediava a cada um a sua necessidade.
Não menos caritativo era para com o seu próximo nas ocasiões que se lhe ofereciam de lhe acudir nas enfermidades. Assistia aos pobres nas doenças, não só com os alimentos necessários, mas com os regalos administrados por suas próprias mãos.
Velava noites inteiras por não faltar com a assistência aos que nas doenças perigavam.
Continuando o Venerável Nuno de Santa Maria as asperezas da vida, sem nunca afrouxar dos seus primeiros fervores, chegou ao ano de 1431 tão destituído de forças, que no corpo apenas conservava alguns alentos para poder mover se.
Entrando enfim na última agonia, rogou que, para consolação do seu espírito, lhe lessem a Paixão de Cristo escrita pelo evangelista São João; logo que chegou à cláusula do Evangelho onde o mesmo Cristo, falando com sua Mãe Santíssima a respeito do amado discípulo, lhe diz: "Eis o vosso filho", deu ele o último suspiro e entregou sua ditosa alma ao mesmo Senhor que a criara.
Da Crónica dos Carmelitas da antiga e regular observância, nos Reinos de Portugal, escrita pelo Cronista geral da Ordem
(Tom I, cap. XV-XVIII: Lisboa 1745, pp. 422-425. 429-431. 438. 440-441. 454. 459).
Estandarte
Oremos:
Senhor nosso Deus, que destes ao bem-aventurado São Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornastes exímio vencedor de si mesmo, concedei aos Vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na Pátria Celeste.
Por Cristo, Nosso Senhor.



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