domingo, 28 de novembro de 2010

«Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal», Evangelho segundo São Mateus, 5, 37.

1. A moral católica é contra o preservativo?

Não.
A moral (em geral, não só a católica) incide sobre actos e não objectos.

2. A moral católica é contra o uso do preservativo para fins contraceptivos?

Sim.

A moral católica considera imoral qualquer tipo de acção que vise impedir a natural fertilidade humana.

3. A moral católica é contra as relações sexuais fora do contexto do matrimónio?

Sim.

A moral católica considera que a sexualidade humana tem a sua expressão natural e legítima apenas no contexto de uma união matrimonial fiel entre um homem e uma mulher: no amor total, fiel, exclusivo e fecundo entre um homem e uma mulher.

4. O Papa considera errado o uso do preservativo no combate à SIDA?

Sim.
Vejamos os porquês deste "Sim":

4.a) Porque não é eficaz a combater o fenómeno: não reduz, e até aumenta, a frequência dos comportamentos de risco.
4.b) Porque a SIDA dissemina-se, sobretudo, pela promiscuidade sexual, sendo que a moral católica considera imoral essa promiscuidade (ver ponto 3); a Igreja defende que o combate à SIDA passa pelo combate à promiscuidade sexual.

5. A moral católica considera imoral o uso de preservativos por prostitutas ou prostitutos?

Sim.
5.a) Porque a moral católica considera imoral a prostituição, e todo o sexo fora do contexto do matrimónio

5.b) Porque a moral católica também considera imoral o objectivo contraceptivo que possa existir nesse uso do preservativo

6. Bento XVI considerou justificado o uso de preservativos por prostitutas ou prostitutos?

Não.
Bento XVI considerou que, em certos casos, "a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer". Se o Papa falou em "um primeiro passo para a moralização" é sinal de que esse primeiro passo ainda não é moral, e que o comportamento do prostituto ou da prostituta é moralmente inaceitável.

7. Mas Bento XVI não usou a palavra "justificado" ao descrever a utilização do preservativo por um prostituto"?

Não.
7.a) Há um problema com a tradução do texto original alemão para português; a frase original, em alemão, é "Es mag begründete Einzelfälle geben, etwa wenn ein Prostituierter ein Kondom verwendet...", de onde se retira a palavra "begründete" que se deve interpretar como "fundamento"; ora "fundamento", no original, retira à frase todo o peso que ela teria se a palavra fosse "justificado", uma palavra com forte conotação moral; o fundamento ao qual o Papa alude está relacionado com esse uso ser "um primeiro passo para a moralização" (ver ponto 6).

7.b) Se o Papa diz, logo a seguir no texto, que "É evidente que ela [a Igreja] não a considera uma solução verdadeira e moral", então seria uma contradição ler a palavra "fundamento" como se fosse uma justificação moral, pois se uma solução (o uso do preservativo) não é nem verdadeira nem moral, não pode ser justificada.

PS: Ler o excelente artigo do Padre Joseph Fessio acerca deste problema de tradução: Guestview: Did the Pope “justify” condom use in some circumstances?


2 comentários:

  1. Resta enviar ao Vaticano esse pequeno catecismo para que o Papa o publique ou que faça algo semelhante. Falam muito e esclarecem pouco. Esse é um exemplo de que em poucas palavras se diz tudo e não se atrapalha em nada.

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  2. Sem dúvida.

    É triste termos de nos instruir uns aos outros...

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